sexta-feira, 16 de abril de 2010

Poema/ Vigília



VIGÍLIA

Cláudia Helena Villela de Andrade


 Se eu não dormir?

Ultrapassar sem falha
A impaciência da insônia,
Das horas no vácuo,
Ouvindo o pêndulo do relógio da sala
E a luz da lua que não se mexe
No silêncio de Orion sem cauda,
Fixa, permanente.

Vou plantar sonhos na minha seara.
 Ceifar a noite decantada de madrugada,
Sem descanso, feito um rio de inverno que não seca,
Filete sem vida.
Insistente.

 Se eu não dormir?

O sabiá não cisca o grão na minha mão
Porque a trava do viveiro quebrou
E os pássaros migraram de mim...
Estão aqui e deixaram-me.
Voam sobre pastagens e
Perseguem os cantos de quem nunca morre.
Não adianta ter pássaros em gaiola.


 Se eu não acordar?

Meus olhos vão sangrar
De peso e de pedra.
Minhas mãos, em cruz,
Sem o próprio abraço.
Nem a terra há de querer
O resto sólido da minha alma.
Para sempre insepulta.


Um comentário:

Anônimo disse...

Ah, se eu não dormir... estou em vigília... Adorei! Beijos... Ydeo