quarta-feira, 18 de agosto de 2010


Instantes

claudia helena villela de andrade

De súbito, um facho de luz no caminho.
Quando termina, quase já está escuro.
Eu fecho os olhos,
respiro curto e subo feliz nesse arco-íris,
felicidade colorida de criança:
pôr-do-sol, alvorada e despedida.
O céu pós-chuva de verão se cala
e eterniza as canções da natureza ressuscitada.
Começam os milagres transcendentais da vida:
um tucano atravessa o meu campo-céu
e um sabiá rouba um grão de ração na vasilha do cão.
O barulho ranheta do gancho da rede na varanda
disputa com os sapos a hegemonia do som.
Perto do lago há patos que se deitam depois das galinhas.
Há penas soltas, espalhadas
(como se houvesse uma rixa antiga).
Há peixes que nadam em águas transparentes.
A rotina se mostra nas frações do momento
entre o pingo da água na fresta da telha
e o mergulho suicida na poça da chuva.
Aos poucos, porém, os pássaros silenciam.
Uma estrela tímida pinta de prata esse telhado.
Extravagante, a lua surge admirada.
Devagar a vida diurna se apaga
e o arco-íris me entrega à realidade.
A noite está tão clara e o vento assobia.
A brisa vem e me devolve a alma.


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