quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Poema


Meias palavras


cláudia helena villela de andrade


Estou no meio do quarto

à meia-noite e meia,

há uma hora e meia,

vestindo a meia-calça preta

que escorrega pelas minhas coxas abertas.



Enlaço o soutien meia-taça que ataca

quem não está de guarda na meia-idade.

Desgovernada,

com meia visão,

miro o centro do espelho meia-cana.

Faço com os dedos o éle do revólver e atiro

com a boca:

— Pá, pá!

Cacos imaginários voam na penumbra do chão que piso.

A meia-calça nada sente.

O soutien sai do lugar.

Ajeito-o com os dedos úmidos.

Faço cara de má.

Levanto o queixo e caminho

como uma meia-lua tonta,

desejando um meio de atirar, de verdade,

em todas as meias palavras.






Um comentário:

Antonio José Rodrigues disse...

Sem comentários, professora. Simplesmente, envolvente. Beijos