quinta-feira, 19 de janeiro de 2012



Te (a ) mores



Cláudia Helena Villela de Andrade

No jantar de ontem eu comi um gato.
Ele estava vivo e esperneava pela minha goela abaixo.
Quando só faltava entrar a cabeça,
ele miava, gritando feito um louco.
Eu sentia o cheiro do mijo dele.
(Mijo de gato é selvagem, forte, agourento.)
Ele urinava até escorrer pelas minhas pernas.

Meu avesso estava todo arranhado.
Eu sangrava. Ele miava dentro de mim.
Peludo, dava-me enjôo.
Asmático,  deixava-me sem ar.
Estúpido, dengoso, dissonante.

(Lua que canta fora do céu:
nobody, nobody.)

Gatos cantam sob a lua cheia
no silêncio do tempo.
Olhando a gente no olho
com amor e coragem.


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