domingo, 22 de janeiro de 2012


VIGÍLIA

Cláudia Helena Villela de Andrade




 Se eu não dormir?



Ultrapassar sem falha

A impaciência da insônia,

Das horas no vácuo,

Ouvindo o pêndulo do relógio da sala

E a luz da lua que não se mexe

No silêncio de Orion sem cauda,

Fixa, permanente.



Vou plantar sonhos na minha seara.

 Ceifar a noite decantada de madrugada,

Sem descanso, feito um rio de inverno que não seca,

Filete sem vida.

Insistente.


 Se eu não dormir?

O sabiá não cisca o grão na minha mão

Porque a trava do viveiro quebrou

E os pássaros migraram de mim...

Estão aqui e deixaram-me.

Voam sobre pastagens e

Perseguem os cantos de quem nunca morre.

Não adianta ter pássaros em gaiola.

 Se eu não acordar?

Meus olhos vão sangrar

De peso e de pedra.

Minhas mãos, em cruz,

Sem o próprio abraço.

Nem a terra há de querer

O resto sólido da minha alma.

Para sempre insepulta.






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