sábado, 6 de outubro de 2012





PROCURANDO UM TEMA

Cláudia Helena Villela de Andrade


Capitu sabia muito bem o que todo mundo não sabia direito. Que ela era gay. Bentinho desconfiou. Mas, a certeza absoluta só veio quando se revelou que ele não havia sido traído com um homem. Na verdade, seu rival era uma sapata disfarçada. Coitado do Machado. Virou no túmulo lá no São João Batista: “O que fizeram da minha Capitu? Já foi chamada de piranha, puta, salafrária, mas de sapata, isso é demais da conta. Não quero mais ser escritor nas próximas dez encarnações. Como um homem com o meu cavanhaque pode se encarar no espelho?”.

Um homem se estrebucha quando isso acontece. Ser traído pelo melhor amigo não dói tanto quanto ser trocado por um ser do mesmo sexo. Assim também se sentem as mulheres que pegam seus maridos com o amigo, o vizinho, “et caetera” e tal. O sujeito ali, de quatro, na posição em que Napoleão perdeu a guerra... Dizem. Deve doer mesmo. Lá e cá.

Mas não se assustem. Falei de Capitu porque me veio à mente essa personagem tão ambígua de Machado e o próprio escritor tão macho atrás dos seus bigodes. Perguntei-me como seria se isso fosse a verdade dos tempos que se foram. Hoje em dia, isso não teria o menor problema. Está tudo virado mesmo, pois a bunda é apenas mais uma parte do aparelho sexual humano. Mas Capitu gay? Isso venderia todas as edições nas ruas escuras, nos escondidos, nos prostíbulos, nas portas das cozinhas de todo o reino. Machado, rico ficaria. Imagina! Por que Machado não pensou nisso? E olha que o homossexualismo não é coisa nova. Sócrates bem sabia disso. E o que seria novidade no mundo de hoje? Big Brother, incestos, filho matando pai e mãe, safadezas políticas, drogas, Harry Potter, clones, guerras. O que seria novidade e venderia feito água? Nem sexo de  animal com homem é novidade. As revistas estão cheias de mulheres fazendo com cavalos e homens com ovelhas. Não existe mais novidade. Não temos mais nada de novo para contar.

Machado chega pra lá. Vou me deitar ao seu lado.

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