VIGÍLIA
Cláudia Helena Villela de Andrade
Se eu não dormir?
Ultrapassar sem falha
A impaciência da insônia,
Das horas no vácuo,
Ouvindo o pêndulo do relógio da sala
E a luz da lua que não se mexe
No silêncio de Orion sem cauda,
Fixa, permanente.
Vou plantar sonhos na minha seara.
Ceifar a noite decantada de madrugada,
Sem descanso, feito um rio de inverno que não seca,
Filete sem vida.
Insistente.
Se eu não dormir?
O sabiá não cisca o grão na minha mão
Porque a trava do viveiro quebrou
E os pássaros migraram de mim...
Estão aqui e deixaram-me.
Voam sobre pastagens e
Perseguem os cantos de quem nunca morre.
Não adianta ter pássaros em gaiola.
Se eu não acordar?
Meus olhos vão sangrar
De peso e de pedra.
Minhas mãos, em cruz,
Sem o próprio abraço.
Nem a terra há de querer
O resto sólido da minha alma.
Para sempre insepulta.