Uma
criança, um nome
claudia helena villela de andrade
Era uma vez um menino chamado “Era uma
vez”. Por que será que sua mãe lhe deu
esse nome? Todo mundo perguntava e ele não compreendia. A mãe de Era uma vez,
apenas dizia que era um lindo nome que ela escutou no rádio.
Um dia, Era uma vez começou a se lembrar
dos amigos da escola que também tinham nomes esquisitos como o seu: Micael,
Maike, Ueliton, Diones, Dionatas, Tauã, Elvis Lennon, 1-2-3, 1-2-3-4,
Maniluana, Bariane, Dayg Liry, Garcy Kelly,
e se perguntava sem parar, o porquê do escrivão do cartório deixar fazer
tais registros? Permitiam que tantas crianças crescessem tristes, com vergonha
do próprio nome! Tudo por preguiça de explicar a mãe ou ao pai, que isso não
era nome que se desse a um pequenino. Tanto nome bonito, João, Carlos,
Mônica...
Carregar esse peso, não era tarefa tão
fácil. Ele sabia disso e cada vez que alguém perguntava o seu nome, ficava
morto de vergonha. Cochichava, falava bem baixinho, olhava para o chão,
timidamente. O interlocutor sempre pedia para que ele repetisse, pois não havia
entendido: — Fala mais alto, menino!
Como aquilo doía!
Um nome pode trazer traumas e nem todo
mundo tem dinheiro para pagar um advogado e trocar esse selo.
Era uma vez era uma criança triste. Não
conhecia nenhum xará daquele seu nome que a mãe escutou no rádio.
Então, teve uma grande idéia: adotar outro
nome, mesmo que só da boca para fora.
Chamaria-se Zev Amu Are, seu nome escrito ao contrário e diria para todo
mundo que era seu nome em árabe.