sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Uma bela reflexão!
ORAÇÃO DO PERDÃO
Ensinada pelos Kahunas - 5000 anos AC *
Buscando eliminar todos os bloqueios que atrapalham a minha evolução dedicarei alguns minutos para perdoar. A partir desse momento eu perdôo todas as pessoas que de alguma forma me ofenderam me injuriaram, me prejudicaram ou me causaram dificuldades desnecessárias. Perdôo sinceramente quem me rejeitou, me odiou me abandonou, me traiu, me ridicularizou, me humilhou, me amedrontou, me iludiu.
Perdôo especialmente quem me provocou até que eu perdesse a paciência e reagisse violentamente, para depois me fazer sentir vergonha, remorso e culpa inadequada. Reconheço que também fui responsável pelas agressões que recebi, pois várias vezes confiei em indivíduos negativos, permiti que me fizessem de bobo e descarregassem em mim seu mau caráter.
Por longos anos suportei maus tratos, humilhações, perdendo tempo e energia na tentativa inútil de conseguir um bom relacionamento com essas criaturas.
Já estou livre da necessidade compulsiva de sofrer e livre da obrigação de conviver com indivíduos e ambientes tóxicos. Iniciei agora uma nova etapa da minha vida, em companhia de gente amiga, sadia e competente: queremos compartilhar sentimentos nobres, enquanto trabalhamos para o progresso de todos nós.
Jamais voltarei a me queixar, falando sobre mágoas e pessoas negativas. Se por acaso pensar nelas, lembrarei que já estão perdoadas e descartadas de minha vida intima definitivamente. Agradeço pelas dificuldades que essas pessoas me causaram, pois isso me ajudou a evoluir, do nível humano comum ao nível espiritualizado em que estou agora.
Quando me lembrar das pessoas que me fizeram sofrer, procurarei valorizar suas boas qualidades e pedirei ao criador que as perdoe também, evitando que elas sejam castigadas pela lei de causa e efeito, nesta vida ou em futuras. Dou razão a todas as pessoas que rejeitaram o meu amor e minhas boas intenções, pois reconheço que é um direito que assiste a cada um me repelir, não me corresponder e me afastar de suas vidas.
(Fazer uma pausa, respirar profundamente algumas vezes, para acúmulo de energia).
Agora sinceramente, peço perdão a todas as pessoas a quem de alguma forma, consciente e inconscientemente, eu ofendi, prejudiquei ou desagradei. Analisando e fazendo julgamento de tudo que realizei ao longo de toda a minha vida, vejo que o valor das minhas boas ações é suficiente para pagar todas as minhas dívidas e resgatar todas as minhas culpas, deixando um saldo positivo a meu favor.
Sinto-me em paz com minha consciência e de cabeça erguida respiro profundamente, prendo o ar e me concentro para enviar uma corrente de energia destinada ao Eu Superior. Ao relaxar, minhas sensações revelam que este contato foi estabelecido.
Agora dirijo minha mensagem ao meu Eu Superior, pedindo orientação, proteção e ajuda, para a realização, em ritmo acelerado, de um projeto muito importante que estou mentalizando e para o qual já estou trabalhando com dedicação e amor.
Agradeço de todo o coração a todas as pessoas que me ajudaram e comprometo-me a retribuir trabalhando para o bem do próximo, atuando como agente catalizador do entusiasmo, prosperidade e auto-realização. Tudo farei em harmonia com as leis da natureza e com a permissão do nosso criador, eterno, infinito, indescritível que eu, intuitivamente, sinto como o único poder real, atuante dentro e fora de mim.
Assim seja assim é e assim será.
* Retirada do livro "Cinestesia do Saber" - Prof. Renato Guedes de Siqueira, Ed. Roca, 2000.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Poema
Meias palavras
cláudia helena villela de andrade
Estou no meio do quarto
à meia-noite e meia,
há uma hora e meia,
vestindo a meia-calça preta
que escorrega pelas minhas coxas abertas.
Enlaço o soutien meia-taça que ataca
quem não está de guarda na meia-idade.
Desgovernada,
com meia visão,
miro o centro do espelho meia-cana.
Faço com os dedos o éle do revólver e atiro
com a boca:
— Pá, pá!
Cacos imaginários voam na penumbra do chão que piso.
A meia-calça nada sente.
O soutien sai do lugar.
Ajeito-o com os dedos úmidos.
Faço cara de má.
Levanto o queixo e caminho
como uma meia-lua tonta,
desejando um meio de atirar, de verdade,
em todas as meias palavras.
domingo, 24 de outubro de 2010
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
INQUIETAÇÃO
cláudia helena villela de andrade
Gotejou lá fora.
Não tinha lua
e eu precisava dela para regular meus mistérios.
Só chuva. Só bocejo molhado de cachorro.
Fechei os olhos e me senti estática na escuridão.
Que temporal!
Nem eu sei do rumo. Da estrada certa.
E ser poeta não mudou o caminho do vento.
Ele ventou frio e me arrepiou do mesmo jeito.
E me fez fazer perguntas que eu não quero responder.
Gotejou pedaço de nuvem. Granizo gelado de ventos do Norte.
Sem sorte estou eu.
Sem sul. Sem leste. Sem Oeste. Sem norte que não seja o vento.
O galo canta no sereno.
Vou matar esse galo amanhã.
Vou matar esse canto que anda cantando demais dentro de mim,
porque eu não sei o tom certo dessas notas e posso desafinar.
Deve ser para aliviar que ando querendo ouvir cantoria.
Para descobrir feitiços de fada, duendes, assombrações.
Deixa quieto, inquietação.
Deixa quieto.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Instantes
claudia helena villela de andrade
De súbito, um facho de luz no caminho.
Quando termina, quase já está escuro.
Eu fecho os olhos,
respiro curto e subo feliz nesse arco-íris,
felicidade colorida de criança:
pôr-do-sol, alvorada e despedida.
O céu pós-chuva de verão se cala
e eterniza as canções da natureza ressuscitada.
Começam os milagres transcendentais da vida:
um tucano atravessa o meu campo-céu
e um sabiá rouba um grão de ração na vasilha do cão.
O barulho ranheta do gancho da rede na varanda
disputa com os sapos a hegemonia do som.
Perto do lago há patos que se deitam depois das galinhas.
Há penas soltas, espalhadas
(como se houvesse uma rixa antiga).
Há peixes que nadam em águas transparentes.
A rotina se mostra nas frações do momento
entre o pingo da água na fresta da telha
e o mergulho suicida na poça da chuva.
Aos poucos, porém, os pássaros silenciam.
Uma estrela tímida pinta de prata esse telhado.
Extravagante, a lua surge admirada.
Devagar a vida diurna se apaga
e o arco-íris me entrega à realidade.
A noite está tão clara e o vento assobia.
A brisa vem e me devolve a alma.
claudia helena villela de andrade
De súbito, um facho de luz no caminho.
Quando termina, quase já está escuro.
Eu fecho os olhos,
respiro curto e subo feliz nesse arco-íris,
felicidade colorida de criança:
pôr-do-sol, alvorada e despedida.
O céu pós-chuva de verão se cala
e eterniza as canções da natureza ressuscitada.
Começam os milagres transcendentais da vida:
um tucano atravessa o meu campo-céu
e um sabiá rouba um grão de ração na vasilha do cão.
O barulho ranheta do gancho da rede na varanda
disputa com os sapos a hegemonia do som.
Perto do lago há patos que se deitam depois das galinhas.
Há penas soltas, espalhadas
(como se houvesse uma rixa antiga).
Há peixes que nadam em águas transparentes.
A rotina se mostra nas frações do momento
entre o pingo da água na fresta da telha
e o mergulho suicida na poça da chuva.
Aos poucos, porém, os pássaros silenciam.
Uma estrela tímida pinta de prata esse telhado.
Extravagante, a lua surge admirada.
Devagar a vida diurna se apaga
e o arco-íris me entrega à realidade.
A noite está tão clara e o vento assobia.
A brisa vem e me devolve a alma.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
O SONO
Pessoas com o gene da "verpertilidade" têm predisposição para acordar tarde
Alvo de críticas de familiares e amigos, quem gosta de ficar na cama até a hora do almoço pode ter um motivo científico para a "vagabundagem": o distúrbio do sono atrasado. O assunto foi um dos temas abordados no 6º Congresso Brasileiro do Cérebro, Comportamento e Emoções, que aconteceu recentemente em Gramado.
O organismo humano tem um ciclo diário, de modo que os níveis hormonais e a temperatura do corpo se alteram ao longo do dia e da noite. Depois do almoço, por exemplo, o corpo trabalha para fazer a digestão e, conseqüentemente, a temperatura sobe, o que pode causar sonolência.
Quando dormimos, a temperatura do corpo diminui e começamos a produzir hormônios de crescimento. Se dormirmos durante a noite, no escuro, produzimos também um hormônio específico chamado melatonina, responsável por comandar o ciclo do sono e fazer com que sua qualidade seja melhor, que seja mais profundo.
Pessoas vespertinas, que têm o hábito de ir para a cama durante a madrugada e dormir até o meio dia, por exemplo, só irão começar a produzir seus hormônios por volta das 5 da manhã. Isso fará com que tenham dificuldade de ir para a cama mais cedo no outro dia e, consequentemente, de acordar mais cedo. É um hábito que só tende a piorar, porque a pessoa vai procurar fazer suas atividades durante o final da tarde e a noite, quando tem mais energia.
O pesquisador Luciano Ribeiro Jr. da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em sono, explica que esse distúrbio pode ser genético: "Pessoas com o gene da ‘vespertilidade’ têm predisposição para serem vespertinas. É claro que fator social e educação também podem favorecer”. Mas não se sabe ainda até que ponto o comportamento social pode influenciar o problema.
A questão, na verdade, é que o vespertino não se encaixa na rotina que consideramos normal e acaba prejudicado em muitos aspectos. O problema surge na infância. A criança prefere estudar durante a tarde e não consegue praticar muitas atividades de manhã. Na adolescência, a doença é acentuada, uma vez que os jovens tendem a sair à noite e dormir até tarde com mais frequência.
A característica vira um problema quando persiste na fase adulta. “O vespertino é aquele que já saiu da adolescência. Pessoas acima de 20 anos de idade que não conseguem se acostumar ao ritmo de vida que a maioria está acostumada”, diz Luciano. Segundo ele, cerca de 5% da população sofre do transtorno da fase atrasada do sono em diferentes graus e apenas uma pequena parcela acaba se adaptando à rotina contemporânea.
O pesquisador conta também que, além do preconceito sofrido pelos pais, professores e, mais tarde, pelos colegas de trabalho, o vespertino sofre de problemas psiquiátricos com maior frequência: depressão, bipolaridade, hiperatividade, déficit de atenção são os mais comuns. Além disso, a privação do sono profundo, quando sonhamos, faz com que a pessoa tenha maior susceptibilidade a vários problemas de saúde: no sistema nervoso, endócrino, renal, cardiovascular, imunológico, digestivo, além do comportamento sexual.
O tratamento não envolve apenas remédios indutores do sono, como se fosse uma insônia comum. É necessária uma terapia comportamental complexa, numa tentativa de mudar o hábito, procurando antecipar o horário do sono. Envolve estímulo de luz, atividades físicas durante a manhã e principalmente um trabalho de reeducação.
E as pessoas que têm o hábito de acordar às 4 ou 5 horas da manhã? “O lado oposto do vespertino é o que a gente chama de avanço de fase. Só que esse não tem o problema maior no sentido social. Ele está mais adaptado aos ritmos sociais e profissionais. Os meus pacientes deste tipo têm orgulho, já ouvi mais de uma vez eles dizendo ‘Deus ajuda quem cedo madruga’”, diz o neurologista.
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI148505-17770,00-QUEM+DORME+ATE+TARDE+NAO+E+VAGABUNDO+DIZ+CIENCIA.html
domingo, 20 de junho de 2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
"Teve um momento, vendo Avatar, que me peguei levando a mão à frente para tocar a gota d´água sobre uma folha, tão linda e fresca. Do jeito que eu fazia quando andava pela floresta onde me criei, no Acre. A guerreira na'vi bebendo água na folha como a gente bebia. No período seco, quando os igarapés quase desapareciam, o cipó de ambé nos fornecia água. Esse cipó é uma espécie de touceira que cai lá do alto das árvores, de quase 35 metros, e vai endurecendo conforme o tempo passa. Mas os talos mais novos, ainda macios, podem ser cortados com facilidade. Então, a gente botava uma lata embaixo, aparando as gotas, e quando voltava da coleta do látex, a lata estava cheia. Era uma água pura, cristalina, que meu pai chamava de água de cipó. E aprendíamos também que se nos perdêssemos na mata, era importante procurar cipó de ambé, para garantir a sobrevivência.
Me tocou muito ver a guerreira na'vi ensinando os segredos da mata. Veio à mente minhas andanças pela floresta com meu pai e minhas irmãs. Ele fazia um jogo pra ver quem sabia mais nomes de árvores. Quem ganhasse era dispensada, ao chegar em casa, de cortar cavaco para fazer o fogo e defumar a borracha que estávamos levando. A disputa era grande e nisso ganhávamos cada vez mais intimidade com a floresta, suas riquezas e seus riscos.
A gente aprendia a reconhecer bichos, árvores, cipós, cheiros. Catávamos a flor do maracujá bravo pra beber o néctar, abrindo com cuidado o miolinho da flor. Lá se encontrava um tiquinho de mel tão doce que às vezes dava até agonia no juízo, como costumávamos dizer.
É incrível revisitar, misturada à grandiosidade tecnológica e plástica de Avatar, a nossa própria vida, também grandiosa na sua simplicidade. Sofrida e densa, cheia de riscos, mas insubstituível em beleza e força. Éramos muito pobres, mas não passávamos fome. A floresta nos alimentava. A água corria no igarapé. Castanha, abiu, bacuri, breu, o fruto da copaiba, pama, taperebá, jatobá, jutai, todas estavam ao alcance. As resinas serviam de remédio, a casca do jatobá para fazer chá contra anemia. Folha de sororoca servia pra assar peixe e também conservar o sal. Como ele derretia com a umidade, tinha que tirar do saco e embrulhar na folha bem grande, que geralmente nasce em região de várzea. Depois amarrava com imbira e deixava pendurado no alto do fumeiro para que o calor mantivesse o sal em boas condições. Aprendi também com meu pai e meu tio a identificar as folhas venenosas que podiam matar só de usá-las para fazer os cones com que bebíamos água na mata.
O filme foi um passeio interno por tudo isso. Chorei diversas vezes e um dos momentos mais fortes foi quando derrubam a grande árvore. Era a derrubada de um mundo, com tudo o que nele fazia sentido. E enquanto cai o mundo, cai também a confiança entre os diferentes, quando o personagem principal se confessa um agente infiltrado para descobrir as vulnerabilidades dos na'vi. E, em seguida, a grande beleza da cena em que, para ser novamente aceito no grupo, tem a coragem de fazer algo fora do comum, montando o pássaro que só o ancestral da tribo tinha montado, num ato simbólico de assunção plena de sua nova identidade.
O filme também me remeteu ao aprendizado ao contrário, quando fui para a cidade e comecei a aprender os códigos daquele mundo tão estranho para mim. Ali fui conduzida por pessoas que me ensinaram tudo, me apontaram as belezas e os riscos. E também enfrentei, junto com eles, o mal e a violência da destruição.
Impossível não fazer as conexões entre o mundo de Pandora, em Avatar, e nossa história no Acre. Principalmente quando, a partir da década de 70 do século passado, transformaram extensas áreas da Amazônia em fazendas, expulsando pessoas e comunidades, queimando casas, matando índios e seringueiros. A arrasadora chegada do "progresso" ao Acre seguiu, de certa forma, a mesma narrativa do filme. Nossa história, nossa forma de vida, nosso conhecimento, nossas lendas e mitos, nada disso tinha valor para quem chegava disposto a derrubar a mata, concentrar a propriedade da terra, cercar, plantar capim e criar boi. Para eles era "lógico" tirar do caminho quem ousava se contrapor. Os empates, a resistência, a luta quase kamikaze para defender a floresta, usando os próprios corpos como escudos, revi internamente tudo isso enquanto assistia Avatar.
A ficção dialoga muito profundamente com a realidade. Seres humanos, sem conhecimento sensível do que é a natureza, chegam destruindo tudo em nome de um resultado imediato, com toda a virulência de quem não atribui nenhum valor àquilo que está fora da fronteira estreita do seu interesse imediato. No filme, como o valor em questão era a riqueza do minério, a floresta em si, com toda aquela conectividade, toda a impressionante integração entre energias e formas de vida, não vale nada para os invasores. Pior, é um estorvo, uma contingência desagradável a ser superada.
Encontrei na tela, em 3D e muita beleza plástica e criatividade, um laço profundo e emocionante com a nossa saga no Acre, com Chico Mendes. E percebi que, assim como no filme, éramos considerados praticamente alienígenas, não humanos, não portadores de direitos e interesses diante dos que chegavam para ocupar nosso espaço.
É uma visão tão arrogante, tão ciosa da exclusividade do seu saber, que tudo o mais é tido como desimportante e, consequentemente, não deve ser levado em conta. É como se se pudesse, por um ato de vontade e comando, anular a própria realidade. Como se o que está no lugar que se transformou em seu objeto de desejo, fosse uma anomalia, um exotismo, uma excrescência menor.
E, afinal, essa arrogância vem da ignorância e da falta de instrumentos e linguagem para apreender a riqueza da diferença e extrair dela algum significado relevante e agregador de valor. Numa inversão trágica, a diferença é vista apenas como argumento para subjugar, para estabelecer autoritariamente uma auto-definida superioridade. Poderíamos chamar tudo isso de síndrome do invasor, cujo principal sintoma é a convicção cega e ensandecida, movida a delírios de poder de mando e poder monetário, de ser o centro do mundo.
No Acre nos deparamos com muitos que viam nossos argumentos como sinônimo de crendices, superstição. Coisa de gente preguiçosa que seria "curada" pelo suposto progresso de que eles se achavam portadores. Por outro lado, também chegaram muitos forasteiros que, tal como a cientista de Avatar e o grupo que a seguiu, compreenderam que nosso modo de vida e a conservação da floresta eram uma forma de conhecimento que poderia interagir com o que havia de mais avançado no universo da tecnologia, da pesquisa acadêmica e das propostas políticas de mudanças no modelo de desenvolvimento que eram formuladas em todo o mundo. Com eles, trocamos códigos culturais, aprendemos e ensinamos.
Fiquei muito impressionada como esse processo está impregnado no personagem principal de Avatar. Ele se angustia por não saber mais quem é, e só recupera sua integridade e identidade real quando começa a se colocar no lugar do outro e ver de maneira nova o que antes lhe parecia tão certo e incontestável. Sua perspectiva mudou quando viu a realidade a partir do olhar e dos sentimentos do outro, fazendo com que a simbiose presente no avatar, destinado a operar a assimilação e subjugação dos diferentes, se transformasse num poderoso instrumento para ajudá-los a resistir à destruição.
Pode-se até ver no filme um fio condutor banal, uma história de Romeu e Julieta intergalática. Não creio que isso seja o mais importante. Se os argumentos não são tão densos, a densidade é complementada pela imagem poderosa e envolvente, pelo lúdico e a simplicidade da fala. Se houvesse uma saturação de fala, de conteúdos, creio que perderia muito. A força está em, de certa maneira, nos levar a sermos avatares também e a tomar partido, não só ao estilo do Bem contra o Mal, mas em favor da beleza, da inventividade, da sobrevivência de lógicas de vida que saiam da corrente hegemônica e proclamem valores para além do cálculo material que justifica e considera normais a escravidão e a destruição dos semelhantes e da natureza.
E, se nada mais tenho a dizer sobre Avatar, quero confessar que aquele povo na'vi tão magrinho e tão bonito foi para mim um alento. Quando fiquei muito magra, na adolescência, depois de várias malárias e hepatite, me considerava estranha diante do padrão de beleza que era o das meninas de pernas mais grossas, mais encorpadas. Sofria por ser magrinha demais, sem muitos atributos. Agora tenho a divertida sensação de que, finalmente, achei o meu "povo", ainda que um pouco tarde. Houvesse os na´vi na minha adolescência e, finalmente, eu teria encontrado o meio onde minhas medidas seriam consideradas perfeitamente normais."
terça-feira, 15 de junho de 2010
FOGOS NÃO!!!!!
Comemore de outra forma
Um alerta, na perspectiva do início dos jogos da Copa do Mundo: se você é um cidadão consciente, ambientalista ou não, evite soltar fogos durante a Copa do Mundo...e daquí pra diante. Os fogos de artifícios afetam negativamente a vida dos animais, tanto os domésticos quanto os selvagens, causando transtornos que vão muito além das aparências.
Fogos eventuais já fazem mal. Mas o foguetório intenso de certas ocasiões podem causar tantos danos que seria preciso um tratado de biologia para esclarecer o assunto. Os efeitos são variados, dependendo da espécie animal e do impacto ( de acordo com a proximidade e persistência) do ruído, podendo em alguns casos levar à morte.
Segundo o veterinário João Paulo Ramagem, os cães são extremamente sensíveis aos fogos, pois sua audição pode ser entre 10 a 20 vezes mais sensivel do que a do ser humano. Por isso é bastante comum que os animais fiquem estressados nos dias de comemorações que se caracterizem pela soltura de fogos. Ele cita inclusive acidentes graves, de cães que se cortaram ao atirarem-se contra vidraças, descontrolados pelo ruído.
Apaixonado pelos beija-flores, o empresário Franklin Guanabarino, do restaurante Vernissage, em Penedo, vem fazendo campanha contra fogos nessa época da Copa, pela forma como ele acredita, diante da sua observação pessoal, que isso afeta essas aves. A impressão do Franklin também é confirmada pelo Dr João Paulo Ramagem, de que o estresse provocado pelos fogos afeta a vida selvagem, interferindo inclusive nos ciclos reprodutivos.
Se nos centros urbanos os fogos já afetam visivelmente os animais domésticos, quem tem o privilégio de viver em áreas preservadas ou próximas, tem um compromisso ainda maior de zelar por esses patrimônio, contribuindo para preservá-lo, abstendo-se de soltar fogos. O assunto é amplo, e quem tiver mais informações sobre ele, por favor, me escreva. Antecipadamente agradeço. Por enquanto, conto com a consciência ambiental dos meus leitores.
Célia Borges
quarta-feira, 26 de maio de 2010
REFLEXÃO IMPORTANTE
Parece mentira, mas foi verdade:
No dia 1°/Abr/2010, o elenco do Santos atual campeão paulista de futebol foi a uma instituição que abriga trinta e quatro pessoas. O objetivo era distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes, a maioria com paralisia cerebral.
Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus que os levou.
Entre estes, Robinho (26a), Neymar (18a), Ganso (21a), Fábio Costa (32a), Durval (29a), Léo
(24a), Marquinhos (28a) e André (19a) – todos ídolos super-aguardados.
O motivo teria sido religioso: a instituição era o Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é Assistência à Paralisia Cerebral
Visivelmente constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer o grupo a participar da ação de caridade. Posteriormente, o Santos informou que os jogadores não entraram no local simplesmente porque não quiseram.
Dentro da instituição, os outros jogadores participaram da doação dos 600 ovos, entre eles, Felipe (22a), Edu Dracena (29a), Arouca (23a), Pará (24a) e Wesley (22a), que conversaram e brincaram com as crianças.
Eis que o escritor, conferencista e Pastor (com Pmaiúsculo) ED RENÉ KIVITZ, da Igreja Batista de Água Branca (São Paulo), fez uma análise profunda sobre o ocorrido e escreveu o texto "No Brasil, futebol é religião", que abaixo tenho o prazer de compartilhar.
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Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus que os levou.
Entre estes, Robinho (26a), Neymar (18a), Ganso (21a), Fábio Costa (32a), Durval (29a), Léo
(24a), Marquinhos (28a) e André (19a) – todos ídolos super-aguardados.
O motivo teria sido religioso: a instituição era o Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos-SP, cujo lema é Assistência à Paralisia Cerebral
Visivelmente constrangido, o técnico Dorival Jr. tentou convencer o grupo a participar da ação de caridade. Posteriormente, o Santos informou que os jogadores não entraram no local simplesmente porque não quiseram.
Dentro da instituição, os outros jogadores participaram da doação dos 600 ovos, entre eles, Felipe (22a), Edu Dracena (29a), Arouca (23a), Pará (24a) e Wesley (22a), que conversaram e brincaram com as crianças.
Eis que o escritor, conferencista e Pastor (com Pmaiúsculo) ED RENÉ KIVITZ, da Igreja Batista de Água Branca (São Paulo), fez uma análise profunda sobre o ocorrido e escreveu o texto "No Brasil, futebol é religião", que abaixo tenho o prazer de compartilhar.
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No Brasil, futebol é religião por Ed Rene KivitzOs meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa.
Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé.
A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno; ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo; ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a
intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai.
E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.
Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio
de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz.
Os valores espirituais agregam pessoas, aproxima os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de
superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.
Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde pequenininho
__._,_.___
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quinta-feira, 13 de maio de 2010
Clarice Lispector
"Saudade é um pouco como fome.Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda qua a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida"
domingo, 9 de maio de 2010
FELIZ DIA, MÃE! DO MEU FINITO MUNDO PARA O SEU INFINITO !
Para ver a felicidade chegar
cláudia helena villela de andrade
Se esta rua fosse minha,
eu mandaria o carro de boi passar
mugindo melancolia,
cantando a singela moda
do rangido da carroça.
Se o mundo fosse meu
e a vida respirasse certezas
eu acharia a tiara de brilhante
perdida no baile da cidade
no infinito do meu passado.
Se esta rua fosse minha
e se eu não fosse só um grão,
na rua que nunca foi minha,
eu arrastava esse tempo
para o tempo da minha rua.
Enxugaria a terra,
contorceria a água,
diria que a areia é fina,
e que Deus não é ventania.
É um botão de rosa carmim.
Sentaria olhando a praia,
debaixo do céu vermelho,
esperando cair a chuva fina,
nua como minguante de lua.
Crua de pensamentos e de mim.
Agora o tempo escafedeu-se
o carro é movido a cavalos.
A rua é uma avenida
A física duvida de Deus
e nem o mundo é mais meu.
Rua Rodolfo Dantas n 40, Prédio de esquina à direita, nono andar,por coincidência o único andar que tem uma janela aberta. As fotos achei na internet.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Poema/ Vigília
VIGÍLIA
Cláudia Helena Villela de Andrade
Se eu não dormir?
Ultrapassar sem falha
A impaciência da insônia,
Das horas no vácuo,
Ouvindo o pêndulo do relógio da sala
E a luz da lua que não se mexe
No silêncio de Orion sem cauda,
Fixa, permanente.
Vou plantar sonhos na minha seara.
Ceifar a noite decantada de madrugada,
Sem descanso, feito um rio de inverno que não seca,
Filete sem vida.
Insistente.
Se eu não dormir?
O sabiá não cisca o grão na minha mão
Porque a trava do viveiro quebrou
E os pássaros migraram de mim...
Estão aqui e deixaram-me.
Voam sobre pastagens e
Perseguem os cantos de quem nunca morre.
Não adianta ter pássaros em gaiola.
Se eu não acordar?
Meus olhos vão sangrar
De peso e de pedra.
Minhas mãos, em cruz,
Sem o próprio abraço.
Nem a terra há de querer
O resto sólido da minha alma.
Para sempre insepulta.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Rio e Niterói vítimas do descaso!
"O morro não tem vez e o que ele fez já foi demais. Mas olhem bem vocês quando derem vez ao morro toda a cidade vai cantar"
Chora Rio de Janeiro, chora Niterói. Até quando vão largar seus filhos ao deus dará. Chora a mãe que ficou sem os filhos, os filhos que ficaram sem os pais. Chora o mar, chora o mar. O tempo vai passar e todos vão esquecer e tudo vai continuar. Tudo vai continuar até sempre. Até mais que sempre.Pra sempre assim, tão miseravelmente abandonados.
Por cláudia helena villela de andrade
sexta-feira, 19 de março de 2010
E o outono chegou...
OUTONO
Cláudia Helena Villela de Andrade
Trago o outono dentro deste poema
e recolho suas folhas manchadas de amarelo.
Do outro lado do mundo a primavera sangra.
Flores vermelhas desabrocham-se
em jardins-túmulos.
Crianças desconhecem suas ruas.
Mulheres choram a agonia crônica.
Os homens tornam-se outonos
espalhados pelos ventos
silenciosos
espantados pela morte.
Nenhum botão de rosa branca se abrirá
e a cidade passará à próxima estação.
Quando o inverno, enfim, chegar naquele lugar,
meus pés estarão inchados de tanto verão
e meu coração parado de absurdo.
Não existe inverno em Bagdá?
Mas existirá.
Existirá.
terça-feira, 16 de março de 2010
VIVA O VERDE!
A nova era
Cláudia Helena Villela de Andrade
Eu calipto
Tu caliptas
com o machado, por dólares.
Olho por olho, verde por verde.
quinta-feira, 11 de março de 2010
Miniconto
Oca solidão
Cláudia Helena Villela de Andrade
O silêncio encobre os lábios. Beijos não beijam apenas. Matam. As paredes escutam o absoluto badalar das horas no relógio antigo cujo pêndulo está embriagado. No quadro do corredor, a paisagem se afoga num riacho longínquo e desconhecido que vem de algum lugar e vai para lugar nenhum. De um lado para o outro os passos vão e voltam. O coração respira coração e aspira solidão. O beijo é o breu. A alma...o tic tac bêbado.
domingo, 7 de março de 2010
Evolução na alimentação humana. Pense nisso!
A SAÚDE - AS FRUTAS NA MEDICINA DOMÉSTICA
A doença nunca vem por acaso. É o próprio homem que provoca a causa de seus enfermidades.
Nós mesmos é que nos fazemos doentes e culpamos alguém ou alguma coisa – Deus, os médicos, os micróbios, o clima – e não nos lembramos de culpar-nos a nós próprios. O que procuramos é fugir da nossa responsabilidade: uma revisão cabal do nosso modo de viver, uma completa reforma dos nossos hábitos. A saúde é um tesouro cujo valor só é reconhecido tarde demais, muitas vezes quando já irrecuperavelmente perdido.
O principal fator de saúde é que o individuo possua sangue limpo. Pelos vasos sanguíneos flui a corrente da vida, levando a todos os setores do corpo as substâncias vitalizantes. Todos os órgãos se alimentam, operam as suas trocas e exercem suas funções, graças à corrente sanguínea.
Se o sangue é impuro, em virtude de uma alimentação imprópria, todo o corpo se contamina, e também o cérebro, que, devendo ser o reservatório de pensamentos lúcidos, fica, em vez disso, embotado, obscurecido e entravado no desempenho de suas funções elevadas.
Pessoas que parecem estar em perfeito juízo muitas vezes cometem desatinos que não seriam capazes de cometer se arrazoassem, pensassem por um instante, e usassem de paciência, mas não o fazem porque estão doentes, ainda que nem sempre o saibam. Alias, a humanidade em geral está enferma, física e espiritualmente.
Como seres energéticos, devemos aprender a manter nossas vibrações em estado harmonioso, em sintonia com as vibrações mais elevadas e puras do universo.
Isso é mais facilmente conseguido quando reconhecemos os alimentos que nos abastecem com energia pura, as plantas, frutas, ervas e a água, fazendo de nosso corpo, um jardim iluminado e perfumado.
Ingerir alimentos industrializados e carnes de forma corriqueira, entope nossos vasos sanguíneos, transformando nosso organismo num cemitério e depósito de lixo; assim como estamos fazendo com o nosso meio ambiente ocorre com o nosso ambiente interno.
O cheiro de nosso suor, fezes e urina reflete esse estado interno, pois toda a carne consumida, continua seu processo natural de apodrecimento da mesma forma. Só que ao invés de enterrarmos o cadáver do boi, do frango na terra, enterramos no nosso próprio corpo.
Mas o processo de putrefação não pára por causa disso. A maior parte da humanidade carrega um cemitério animal em sua barriga. A humanidade é a maior causadora de dor, sofrimento e morte para a vida do reino animal. A Terra está carregada energeticamente dessa dor provocada na vida dos animais.
Pessoas que desejam elevar-se enérgica e espiritualmente, devem parar e refletir sobre isso e negar o alimento que vem da exploração gananciosa da dor e morte dos animais.
Uma prática muito salutar física e espiritualmente, é o jejum semanal. Para isso, é necessária uma preparação no dia anterior, limpando o intestino com a ingestão de alimentos fibrosos, muita água e chá laxante.
E o rompimento do jejum, ao final do dia do mesmo ou no dia seguinte, também deve ser de forma leve e suave. Lembre-se de que é em sua rotina diária que você se harmoniza ou desarmoniza com as leis de saúde e paz.
Através dos alimentos saudáveis, sólidos, emocionais (sentimentos) e energéticos (ar, sol, alegria) você mantém a estrutura para uma vida integral e integrada.
PROF. ALFONS BALBACH – AS FRUTAS NA MEDICINA DOMÉSTICA
sábado, 6 de março de 2010
Poeminnnn
No tempo das andorinhas
cláudia helena villela de andrade
Embaixo da asa
o lenço branco
adorna o cântico incerto.
Do azul, sobre a cabeça,
o vôo-luz desajeitado e desperto,
raso, de quem conhece o campo,
do vai e vem da valsa,
do cheiro da florada,
da gustação do néctar,
do trem que geme longe
de dor em vão lamento.
Por baixo do telhado,
o ninho abriga a prole
que o gavião de longe,
intencional, namora.
Andorinha do céu,
por que eu faço verso à moda antiga,
ouvindo o trinado do canário?
O mundo não consente mais cantigas
de quem quer ser “passarim”.
O verso alça o tom para outra ária:
a Nova Era,
que de boa não tem nada.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Um conto
ANJOS DO CIRCO
claudia helena villela de andrade
Chico Bala era artista de circo. Desde pequeno viajava nas caravanas do Circo Manolo. Circo de quinta categoria que se apresentava pelo interior. Ele fazia de tudo. Vestia-se de macaco para assustar a criançada, balançava no trapézio, ajudava o palhaço, engolia fogo, executava saltos mortais nas motos voadoras e equilibrava-se no fio de aço. Era o alvo do campeão de tiros e servia de bala de canhão, por isso tinha o apelido.
Nos intervalos das apresentações, vendia refrigerante e pipoca na platéia, também fazia a limpeza no final das sessões. Qualquer papel era bem executado por ele, braço direito do seu Manolo. Quase sempre era o artista principal.
Um dia, na hora da limpeza da platéia, Chico viu uma criança ainda miúda entre as cadeiras especiais. Chorava de fome a coitada. Pegou o bebê nos braços e o levou para seu trailer. Era um menino branquinho, de olhos azuis, que deveria ter dez ou onze meses, pois já ensaiava andar. A bailarina o socorreu com mamadeira e leite. Cortaram pedaços de lençóis e fizeram fraldas. Chico ficou quase toda a madrugada olhando o nenê dormindo e milhões de perguntas passaram por sua cabeça. Quem seria esse ser? Quem teria a coragem de abandoná-lo assim? Qual a sua idade certa? O que faria com aquela criança?
No dia seguinte, seu Manolo pediu ao Chico para ir à polícia entregar o menino, mas Chico não foi. Ficou adiando, enrolando, até que o circo levantou acampamento daquela cidade e foi embora para outras paragens. O menino foi junto. Todo mundo dizia que Chico estava sem juízo. Que não conseguiria criar uma criança sozinho. Que a polícia podia prendê-lo por seqüestro. Todas essas coisas que falam, mas que, nesses casos, dificilmente acontecem. Chico teimou e ficou com o menino, sem licença de juiz, sem papel, sem coisa nenhuma. Na pura coragem e cara-de-pau.
Chico batizou o menino com o nome de Francisco Filho. Seu Manolo e a bailarina foram os padrinhos. O menino Chiquinho, nesta época, já dava gargalhada e batia palminhas, o que fez Chico Bala escolher um dia para o seu aniversário de um ano. Coincidentemente estava bem perto de quatro de outubro. Dia do Santo que carregava esse nome: São Francisco de Assis. E assim foi feito. Em uma festinha improvisada, o batismo e o aniversário foram comemorados com grande alegria.
Os anos se passaram e Chiquinho cresceu feliz e contente junto de seu pai adotivo. Não podia ir à escola, por conta das viagens do circo, mas Chico Bala ensinava o pouco que sabia. Letras, números, coisinhas assim. E muita religião. Chico Bala tinha Deus no coração.
No aniversário de 18 anos do rapaz, Chico fez um festão no picadeiro do circo. Todos os adolescentes da cidade em que estavam foram convidados. A arena virou uma boate. Luz negra, som, tudo que os adolescentes gostam hoje em dia. Comida e bebida à vontade.
O que ninguém podia imaginar era que uma tragédia chegaria embaixo daquela lona. Uma turma de jovens que havia bebido demais resolveu provocar outra turma de meninos menores. Alguém puxou um revólver e atirou. Todos correram, mas, no fundo da arena, Chico Bala ficou estendido no chão com uma bala cravada na sua espinha.
Chico Bala não morreu, porém ficou paraplégico. Chiquinho cuidava dele dia e noite, com muito amor. Amor maior do que muito filho verdadeiro tem pelo pai. Além dos cuidados com o doente, o rapaz ainda fazia todo o trabalho do pai no circo.
Depois de quase um ano, Chico Bala pôde, enfim, voltar a trabalhar. Em sua cadeira de rodas, vendia ingressos no começo das sessões e no intervalo passava com seu tabuleiro de balas e biscoitos. Continuou fazendo jus ao seu apelido, com o coração sempre bom e alegre, apenas com uma pequena modificação: agora, era Chico das Balas.
Dizem que os seres de circo são anjos especiais. Trazem a alegria e a pureza latentes. As tristezas ficam por conta da maquiagem do palhaço e das desilusões que ele tem. Quase sempre isso é verdade. O palhaço chora por coisas das quais nem sabe direito o porquê. Deve ser saudade do céu. De voar entre as nuvens. De colher amoras no campo. De pisar descalço na grama. De balançar em um galho de eucalipto. De tomar banho de rio pelado. De chupar manga sentado no pé. Sem temores, sem inesperados nem enganos. Saudade de rir por rir, com a alma livre. Por isso o palhaço traz a saudade no rosto em forma de lágrima vermelha por cima da pintura branca. No interior, o pessoal tem uma mania esquisita: quando tem alguma desilusão, diz que vai embora com o circo. Como se o circo fosse composto de seres tristes e sofridos. Não é nada disso. Na confusão da vida, os artistas de circo cultivam a força do espírito para que a paz e a alegria de viver debaixo da lona sejam capazes de contagiar os espectadores. Pode-se notar isso pelo estado de ânimo de qualquer vivente ao sair no final de uma sessão de circo. A alma sempre está alegre. Tudo sempre delicado e singelo. Do começo ao fim. Puro como os animais, as crianças, os anjos e os artistas.
Assim, todo dia de apresentação, lá está Chiquinho como apresentador, no lugar do Seu Manolo, dono do estabelecimento e seu padrinho. Com uma cartola preta na cabeça e seus lindos olhos azuis, ele grita na maior alegria:
— Respeitáaaaavel púuuuublico!
Imediatamente seus olhos se levantam para o alto da lona e ele agradece a Deus por ter caído do céu bem ali, entre as cadeiras especiais. Perto de Chico das Balas, seu pai.
De longe, com o tabuleiro de bala no colo, Chico das Balas observa orgulhoso o filho, grande artista de circo, com a mesma alegria de sempre. De todo o sempre.
Só podem ser anjos. Só podem...
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
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