sexta-feira, 20 de agosto de 2010
INQUIETAÇÃO
cláudia helena villela de andrade
Gotejou lá fora.
Não tinha lua
e eu precisava dela para regular meus mistérios.
Só chuva. Só bocejo molhado de cachorro.
Fechei os olhos e me senti estática na escuridão.
Que temporal!
Nem eu sei do rumo. Da estrada certa.
E ser poeta não mudou o caminho do vento.
Ele ventou frio e me arrepiou do mesmo jeito.
E me fez fazer perguntas que eu não quero responder.
Gotejou pedaço de nuvem. Granizo gelado de ventos do Norte.
Sem sorte estou eu.
Sem sul. Sem leste. Sem Oeste. Sem norte que não seja o vento.
O galo canta no sereno.
Vou matar esse galo amanhã.
Vou matar esse canto que anda cantando demais dentro de mim,
porque eu não sei o tom certo dessas notas e posso desafinar.
Deve ser para aliviar que ando querendo ouvir cantoria.
Para descobrir feitiços de fada, duendes, assombrações.
Deixa quieto, inquietação.
Deixa quieto.
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Um comentário:
Matar esse galo, Cláudia, que anda cantando demais dentro de mim fugiu da mesmice e, portanto, particularizou o poema. Belíssimo poema. Gostaria de implorar para que vc não matasse o galo, pois não teríamos mais textos como este... Deixe-o, por favor, a cantar, mesmo, como vc disse, desafinado. Beijos tropicais
Antonio José, seu seguidor
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