Meias palavras
cláudia helena villela de andrade
Estou no meio do quarto
à meia-noite e meia,
há uma hora e meia,
vestindo a meia-calça preta
que escorrega pelas minhas coxas abertas.
Enlaço o soutien meia-taça que ataca
quem não está de guarda na meia-idade.
Desgovernada,
com meia visão,
miro o centro do espelho meia-cana.
Faço com os dedos o éle do revólver e atiro
com a boca:
— Pá, pá!
Cacos imaginários voam na penumbra do chão que piso.
A meia-calça nada sente.
O soutien sai do lugar.
Ajeito-o com os dedos úmidos.
Faço cara de má.
Levanto o queixo e caminho
como uma meia-lua tonta,
desejando um meio de atirar, de verdade,
em todas as meias palavras.
Um comentário:
Sem comentários, professora. Simplesmente, envolvente. Beijos
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