Te (a ) mores
Cláudia Helena Villela de Andrade
No jantar de ontem eu comi um
gato.
Ele estava vivo e esperneava pela
minha goela abaixo.
Quando só faltava entrar a cabeça,
ele
miava, gritando feito um louco.
Eu
sentia o cheiro do mijo dele.
(Mijo de gato é selvagem, forte, agourento.)
Ele urinava até escorrer pelas minhas pernas.
Meu avesso estava todo arranhado.
Eu sangrava. Ele miava dentro de mim.
Peludo, dava-me enjôo.
Asmático, deixava-me sem ar.
Estúpido, dengoso, dissonante.
(Lua
que canta fora do céu:
nobody,
nobody.)
Gatos cantam sob a lua cheia
no silêncio do tempo.
Olhando
a gente no olho
com
amor e coragem.
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